Olhando para aqueles olhos que brilhavam
como se houvesse um choro reprimido ali, eu poderia pedir qualquer coisa.
Poderia revindicar uma promessa, poderia questionar sobre o passado que nem a
ele pertencia mais, poderia pedir para que ele fosse ou para que ficasse. Mas o
que eu precisava naquele momento era alimentar o meu egoísmo, aumentar a minha
segurança boba e infantil e manter a pose de quem sabe o que está fazendo com a
própria vida.
Demorei um tempo para abrir a boca e falar
o que precisava. Não era falta de coragem, não era dúvida. É que sempre achei
que um pequeno silêncio antes de grandes falas aumentam o seu poder de impacto.
Quando abri a boca pude ver seus olhos encarando-a. Então falei o que
precisava: “eu quero morar no seu abraço”.
Um meio sorriso se formou nos lábios dele.
O que veio a seguir eu não me lembro bem. Só sei que quando me dei conta eu
estava entre seus braços, com a cabeça encostada em seu peito. Senti como se
pela primeira vez em toda a minha vida eu tinha tomado a decisão certa.
As malas, que eu havia feito depois da
nossa última briga, eram um indício de que eu precisava de um novo lugar para
viver. Toda a gritaria, a louça que fora jogada contra as paredes, as palavras
que saiam cheias de fogo e entravam cortando... tudo foi necessário para que eu
encontrasse o meu lugar, a minha certeza, o meu caminho.
Eu não iria a lugar nenhum, nem ele. Eu
poderia me livrar do pânico que sentia só de me imaginar tentando conhecer
outra pessoa para acomodar o meu coração. Sempre fui péssima com os inícios,
gosto dos meios, mas insisto em viver com a ponta dos pés nos fins, que é pra
não me entregar à ilusão.
Naquele momento, nada disso importava. Eu
estava onde deveria estar. Os braços dele seriam o meu lar e o seu peito a cama
que aconchegaria o meu ser. Enquanto ele me abraçava eu me sentia mais completa
e inteira do que um dia achei capaz me sentir.
Nos seus braços não havia medo, não havia
dúvida, não havia “e se...”.
Seus
braços eram a minha certeza, a minha razão, o meu lar. E eu só sairia de lá
quando inventassem algo mais forte e verdadeiro que um amor capaz de me levar
da loucura à lucidez em um piscar de olhos.