quinta-feira, 4 de junho de 2015

A luz que nós fomos


Você me pergunta por que nós não somos maiores do que isso. Eu preciso que você me entenda, mesmo já estando cansado das minhas filosofias carregadas de apelo. Nós fomos o melhor. O melhor de todos. Mas nem mesmo nós, criadores e idealistas do melhor que pudemos viver, somos capazes de reproduzir o que já se passou. 
A vida é assim, meu jovem. Você erra e é capaz de errar de novo. Você acerta e pra acertar outra vez precisa esperar o mundo dar voltas. Você não quer esperar, você quer tudo pra ontem, quer voltar a viver nos dias de luz, mas o que nos restou foi apenas uma pequena chama, que só pode ser vista bem de perto. Entenda, meu amor, que nunca mais seremos o que já fomos. 
O nosso mundo está dando as suas voltas e sabe-se lá quando vamos encontrar o momento perfeito novamente. Você precisa aceitar a pequena chama, se apegar a ela, chamá-la de diamante e seguir em frente. Sempre te achei muito forte. Hoje vejo que é fácil ser forte nos momentos de glória. A luz se apagou aos poucos e aos poucos você enfraqueceu. Os seus olhos que antes me fitavam com energia e vontade hoje apenas me suportam. As suas mãos que antes nem se lembravam o que eram longe de mim, hoje têm vida própria. 
Você quer saber o que deu errado, exige que eu te explique, que eu encontre uma saída. Eu não posso. Não é que eu não queira. As coisas que eu quero são profundas demais pra eu desejar uma volta, um retorno. O que eu quero se mede em profundidade, brilho e calor. O que você espera de mim se mede em esforço, lágrima e dor. Não me cobre, não cobre nem a si mesmo. 
Assuma que hoje não somos bons, não estamos certos e não sabemos qual passo dar. Aceite que a vida é uma confusão. Uma confusão que te prende, te vicia e que, do nada, te larga no escuro. Aceite que não somos mais luz. Aceite que talvez o seu mudo esteja girando para o lado contrário do meu. Aceite que essa agressividade não vai te levar a nada. Aprenda que lutar com suavidade é mais digno que lutar com ferocidade. Aprenda que seguir com o coração cheio de marcas é melhor do que seguir com um coração que nada viveu, que nada suportou e que nada sonhou.

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